ALINE MORAES E A BOCA CARNUDA QUE ENLOUQUECE MILHÕES DE MARMANJOS
































Como você se vira nas tarefas domésticas?
Desde pequena aprendi a arrumar a casa. Minha mãe me teve com 19 anos e, quando eu tinha 5, ela voltou a estudar e a trabalhar. Ganhava um salário mínimo, era outra realidade. Eu morei numa chácara, onde aprendi tudo com a minha avó: a matar galinha, a depenar... Depois, com 12 anos, quando comecei a ser modelo, fui morar fora [durante a carreira passou por Tóquio, Milão, Nova York e Paris], queria economizar em tudo: tomava banho e já lavava a roupa na banheira.

E cozinhava?
Sim, aprendi a fazer bolo, arroz, feijão. Comida-comida, nada diet.

Gosta da casa arrumada?
O lar é o meu templo. Preciso chegar do trabalho e acender velas, incenso, dar a ração para os cachorros. Tenho uma coisa de TOC [transtorno obsessivo-compulsivo], de colocar um objeto um pouco mais pra esquerda, mais pra direita.

Tem prazer?
Sim. Me desestressa. O Ney [Latorraca] uma vez me disse: “Antes de resolver um problema, vá lavar roupa”. E, realmente, a atitude que você toma é muito diferente depois de fazer algo assim.

Quando tem um problema, o que ataca primeiro?
A pia de louça, com certeza.

Tem empregada?
Tenho desde que mudei para o Rio, há 12 anos [Alinne é de Sorocaba, e já morou em São Paulo]. Mas quem cozinha sou eu. Chamei ela por conta dos meus cachorros, que estavam solitários. Tenho dois golden retrievers e dois gatos.

É luxo ou necessidade?
É um luxo porque hoje posso me dar de presente, antigamente era impossível.

Teve época em que o trabalho sufocou a casa?
Em Viver a Vida [2009-2010]. Passava 12 horas trabalhando. Café, almoço e jantar eram lá. Chegava em casa às 22 horas e tinha três horas para decorar o texto pro dia seguinte. Foi um momento delicado, em que entrei... não em depressão, porque sou muito prática e pra cima, mas foi o momento em que fiquei mais triste. Eu não conseguia respirar o ar da minha vida.

Do que mais sentia falta?
De flores. É a cor. Tudo fica cinza quando eu não estou.

E agora?
Estou sem trabalhar desde dezembro, dei férias pra mim. E o que mais gosto de fazer é ir ao supermercado, escolher o que quero comer. Uma coisa é você cozinhar pra se alimentar, e outra é fazer com prazer, sem pressa. Tenho conseguido fazer mais doce agora.

Doce?
É, e eu tenho uma mão... Na casa do meu namorado [o cineasta Mauro Lima] não tem batedeira, e isso me resgata muita coisa do passado, com a minha avó, batendo bolo na mão. Faço de laranja, fubá, chocolate. Tudo simples, com calda simples.

Já fez algum papel com apelo doméstico?Não. As personagens que me dão são bem-nascidas [risos]. A identificação está na cabeça das pessoas. Porque já fui modelo, tenho uma pele boa, um cabelo bem cuidado... Acho que é um pouco difícil uma pessoa olhar para o meu estereótipo e falar: “Ah, essa limpa a casa”.

O que acha de mulheres que deixam a carreira para ter filhos?
As mulheres estão sendo bem-sucedidas muito rápido. Acho que lá no nosso íntimo a gente quer ser aquela mulher que a nossa avó já foi, ter uma família, se dedicar.

Se vê nessa mulher que conseguiu tudo aos 30 anos?
Totalmente. Saí de casa cedo, com 12 anos. A gente trabalha, ganha dinheiro, investe, mas para que mesmo [risos]? Acho que agora esse sonho de cuidar de casa, do marido e dos filhos está voltando.

Se imagina num futuro assim, só em casa?
Eu já escolhi minha carreira, que quero seguir pelo resto da vida. Mas sonho em ter a minha família, os meus filhos, eu não quero só um. Vai acontecer e naturalmente vou ficar um pouco ausente do trabalho, porque quero viver isto: ter um filho e ficar um ano, dois, parada. Tenho amigas que fizeram essa escolha e estão grávidas pela segunda vez. Estou muito “tia”. E com muita água na boca.

O que é uma mulher prendada para você?
É a que precisa de menos ajuda possível. Moro sozinha numa casa de 1.000 metros quadrados, tem acerola, limão, lichia, e tem barulho. Mas eu não tenho medo. Piso em barata, pego rã na piscina. Não tem muita coisa que um homem possa fazer que eu não faça.


(entrevista a Letícia Gonzalez, publicada pela Revista TPM em Maio de 2013)





















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