TESOURO NACIONAL: DEBORAH SECCO

 




“Determinada, estudiosa e intensa”. É assim que Deborah Secco se define como atriz. Ela poderia acrescentar ainda perseverante, pois sem essa característica talvez não tivesse chegado aonde chegou. A carioca nascida e criada em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, conseguiu o primeiro teste depois de telefonar diversas vezes para a extinta TV Manchete.

“Quando tinha oito anos, ligava para o número que a Angélica dava para ir no programa dela. Telefonei umas 200 vezes e a moça sempre perguntava se eu queria ir no programa e eu dizia que não, que queria ser atriz. Acho que na milésima vez, ela me passou para Marilda, que era a produtora de elenco da Manchete. Assim eu comecei. Meu primeiro trabalho foi gravar umas vinhetas que diziam os direitos das crianças. Eu falava: ‘Toda criança tem que ser socorrida em primeiro lugar, em caso de catástrofe.’ Eu nem sabia o que era catástrofe”, recorda.

Deborah conta que sua brincadeira favorita na infância era ser atriz. “Com cinco anos caí e fingi que tinha perdido a memória. Fiquei dois meses testando o meu poder de interpretação e convencimento. As minhas brincadeiras eram treinar chorar, ser pessoa chique. Às vezes, passava carvão, botava a minha pior roupa e ia para o sinal pedir dinheiro”, relembra a atriz, que nasceu em 26 de novembro de 1979.

O PRIMEIRO TESTE

O pai é professor de matemática. A mãe, uma dona de casa que apoiava e acompanhava Deborah em suas aventuras de criança. Um dia, em 1990, quando tinha 11 anos, descobriu que haveria um teste para uma novela da Globo, em uma praça do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. “Infernizei a minha mãe e a gente rodou todas as praças do bairro. Encontramos o lugar e pedi para fazer o teste, que era realizado pelo Walter Avancini e a Denise Saraceni. Fui a última a fazer, passei e fiz a novela Mico Preto”.

Entre 1990 e 1993, participou de outra novela, Meu Bem, Meu Mal (1990), além de alguns episódios de Você Decide, da Escolinha do Professor Raimundo e do seriado Contos de Verão (1993). Mas foi vivendo a personagem Carol, em Confissões de Adolescente, em 1994, na TV Cultura, que a carreira deu uma guinada.

“Foi quando, pela primeira vez, pude traçar um perfil psicológico da personagem que ia interpretar. Também aprendi tudo sobre continuidade, iluminação, fotografia, eixo de câmera. Porque o Daniel (Filho) estava fazendo um projeto com o dinheiro dele, então, errar era uma coisa que não podia acontecer. Eu tinha um caderno em que anotava para que eixo eu deveria me virar, de que olho a lágrima tinha caído. Era obsessiva e sou até hoje. É muito louco porque passaram anos e o texto ainda está na minha cabeça como se tivesse gravado a cena ontem. Foi muito especial. Acho que foi onde aprendi tudo o que sei de como trabalhar. Foi onde formatei a minha personalidade e as minhas escolhas profissionais”.

A TÃO ESPERADA NOVELA DAS OITO

 Em 1995, pediu para sair do seriado – que seguiu até o ano seguinte – para trabalhar na novela A Próxima Vítima. “Foi a realização de um sonho fazer a novela das oito e ser filha da Susana Vieira e do José Wilker, grandes atores”, conta Deborah, que interpretou Carina. “Mas eu era muito crua. Vim de um programa onde fui elogiada e na novela sofri várias críticas. Foi ótimo para eu entender também que a carreira da gente é cíclica. Vão ter trabalhos que você vai acertar e outros que vai errar, que o personagem vai te ajudar ou que você vai ter que correr atrás”.

Seu trabalho seguinte foi Vira-Lata (1996), de Carlos Lombardi, em que interpretava a Tatu. “Essa personagem foi um presente. Depois que fiz a Carina, meio que desencantei com novela, achei que era muito corrido. Aí veio esse personagem, que era total de composição. Tive que cortar o cabelo curto e aprender a andar como menino de rua”.

Em Suave Veneno (1999) voltou a trabalhar com Daniel Filho. Desta vez, vivendo Marina, uma personagem que já não tinha mais nada a ver com a adolescente Carol, de Confissões, mais sensual. “Foi a única vez que eu duvidei realmente se queria isso para minha vida porque estava me agredindo fisicamente, me expondo mais do que conseguiria. Sempre fui muito envergonhada com o meu corpo e ali entendi que enquanto tivesse dentro do set, o corpo não era meu, era da personagem. Foi a minha primeira cena nua e ela virou chamada da novela. Tive que vencer as minhas barreiras como ser humano, dos meus valores, do que acho certo ou errado e esquecer isso em prol de um personagem”.

MUDANÇAS NO CORPO

Se entregar aos personagens é outra característica da atriz, que também já teve que lidar com diversas mudanças do corpo ao longo de sua carreira. Para interpretar a Dora, em Zazá (1997), teve que engordar 12 quilos. Em 2013, engordou novamente para fazer o filme a Estrada do Diabo, de André Moraes, e na sequência teve que perder outros 12 quilos para encarnar uma soropositiva toxicodependente no filme Boa Sorte, de Carol Jabor. Já em O Beijo do Vampiro (2002), Deborah chegou a ficar 20 quilos acima do peso, desta vez por um problema de saúde.

Mas sua vampira Lara também revelou outro lado da atriz. “Acho que vesti pela primeira vez a imagem da mulher fatal, do mulherão. Lembro quando pintei o cabelo de louro e botei aquelas roupas sexy, falei: ‘Meu Deus, isso não sou eu, isso não vai dar certo!’. E as pessoas acreditam nessa Deborah sexy, né?“.

LAÇOS DE FAMÍLIA E CELEBRIDADE

Esse lado da atriz ficou ainda mais acentuado com a manicure Darlene, de Celebridade (2003). “A Darlene tinha a coisa da lolita também, foi a minha passagem mesmo de menina para mulher, tinha 24 anos. Acho que cada personagem teve a sua importância, mas a Darlene sem dúvida é quando falo que vou subindo os degraus e em algum momento pego o elevador. Ela foi o elevador, porque subi vários andares mais rápido. A Íris (Laços de Família) também”.

Outra personagem que fez Deborah levantar voo foi a Natalie Lamour, de Insensato Coração (2011), uma ex-participante de reality show que queria manter a fama. O desafio para atriz foi de fazer algo diferente da Darlene. “A Natalie veio nascendo com uma força dentro de mim, que quando comecei a gravar ela já estava pronta. Fiquei um ano me preparando, indo para academia três horas por dia, ganhei 11 quilos de músculos. Era uma personagem que tinha um desvio de caráter enorme e, mesmo assim, ela conseguia ter aquela humanidade de cuidar da mãe, um coração bom. Acho que as pessoas viam muitas outras pessoas refletidas nessa personagem e esse foi o segredo dela dar tão certo".

CINEMA E TEATRO

No mesmo ano em que interpretou a Natalie na televisão, Deborah viveu no cinema sua personagem mais emblemática: Bruna Surfistinha. “Eram duas personagens que tinham tudo para serem parecidas e eram completamente diferentes. Então, tive um reconhecimento da atriz Deborah, que talvez nunca tenha tido antes e foi um ano glorioso. Ganhei vários prêmios”.

Para interpretar a personagem no filme homônimo, Deborah conta que não foi fácil, que muitas pessoas foram contra ela pegar o papel. “Queria uma personagem que me fizesse mergulhar numa vida completamente diferente da minha, que precisasse me dedicar e me doar. Foi muito difícil tomar a decisão de fazer ou não fazer esse filme porque tinha um preconceito muito grande das pessoas e também pela Bruna ser viva. Foi realmente muito determinante, um  marco de maturidade. Reencontrei com a Deborah do Confissões de Adolescente que não sabia nada e que estava se zerando para começar a aprender uma nova forma de interpretar, de trabalhar”.

Deborah atuou em 13 filmes e 10 peças de teatro, além das minisséries Contos de Verão (1993) e A Invenção do Brasil (2000), diversos seriados e 17 novelas - duas delas como protagonista. Uma foi na novela das seis, como Cecília em A Padroeira (2001). “Para mim é difícil fazer mocinha porque sou mocinha na vida real. Acredito no príncipe encantado, acho que ele vai chegar no cavalo branco. Isso me dá um pouco de angústia porque quero criar uma personagem, mas a personagem é muito próxima da minha realidade, então, não tem muito o que fazer”.

A PROTAGONISTA SOL

Outra protagonista foi a Sol em América (2005), novela de Gloria Perez. A personagem largava tudo para ir viver o sonho de morar nos Estados Unidos. "Adoro a história da Sol, acho que é difícil realmente a gente ter uma mocinha que não escolhe o grande amor, escolhe ir em busca de um sonho. Acho que a Glória tem essa marca de dar um nó na cabeça do telespectador, que já está acostumado a ver aquela história, sempre pronta, a mocinha boazinha, passiva. Nesse caso não. Adorei fazer e realizei meu sonho de ver meu nome como protagonista da novela das oito, antes dos meus 25 anos”, comenta.

Em seguida, Deborah emendou três novelas: Pé na Jaca (2006), Paraíso Tropical (2007) e A Favorita (2008). Em 2011, a atriz voltou para as telinhas como Natalie Lamour, uma ex-participante de reality show, em Insensato Coração. Três anos depois, ela interpretou a aeromoça Inês em Boogie Oogie.

Para Deborah, é difícil um ator sempre acertar, mas é preciso gostar muito do que faz para correr o risco. “Nossa carreira é sempre essa eterna roleta russa, a gente faz com toda a dedicação, empenho, amor, pode ser que dê super certo, pode ser que não. Mas acho que a dedicação, o amor, e o empenho são sempre iguais. São sempre os mesmos”.

 (Depoimento concedido ao Memória Globo
por Deborah Secco em 31/01/2012)
























































































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